Desvendando o Manifesto Comunista: Uma Análise da Luta de Classes e a Visão do Proletariado
O "Manifesto Comunista", um documento seminal escrito por Karl Marx e Friedrich Engels e publicado pela primeira vez em Londres em fevereiro de 1848, continua a ser uma das obras mais influentes e discutidas da história. Mais do que um simples texto político, o Manifesto oferece uma análise profunda das dinâmicas sociais e econômicas de sua época, que, para muitos, ainda ressoa nos dias atuais.
A Burguesia: Agente de Transformação e Sua Contradição Interna
A tese central do Manifesto é que a história de todas as sociedades até o momento é a história das lutas de classes. A sociedade moderna, por sua vez, é caracterizada por uma simplificação desses antagonismos: de um lado, a burguesia; do outro, o proletariado.
Os autores do Manifesto descrevem a burguesia como uma força revolucionária em si mesma. Ela não apenas destruiu as relações feudais, patriarcais e idílicas, mas também as substituiu por uma exploração direta e descarada. Impulsionada pela necessidade de mercados cada vez maiores, a burguesia expandiu-se globalmente, demolindo as indústrias nacionais e criando um mercado mundial interconectado. Essa classe concentrou os meios de produção e a propriedade em poucas mãos, gerando forças produtivas mais colossais e grandiosas do que todas as gerações anteriores.
No entanto, o Manifesto aponta para uma contradição inerente a essa dominação: a burguesia não pode mais controlar as forças produtivas que ela mesma criou. Suas crises comerciais, que se repetem periodicamente, destroem grande parte dos produtos já fabricados e das forças produtivas. Ela se torna incapaz de garantir a existência de seu próprio "escravo", o proletariado. A burguesia, em sua incessante busca por novos mercados e exploração, acabou por produzir seus próprios coveiros: o proletariado.
O Proletariado: O Túmulo da Burguesia
O proletariado é definido no Manifesto como a classe dos operários modernos, que só podem viver enquanto encontram trabalho, e só encontram trabalho enquanto seu trabalho aumenta o capital. Com o avanço das máquinas e a divisão do trabalho, a tarefa do proletário perde todo o atrativo e caráter autônomo, transformando-o em um simples apêndice da máquina. Como resultado, o custo de vida do operário se resume ao mínimo necessário para sua subsistência e reprodução, e seus salários diminuem à medida que a maquinaria e a divisão do trabalho aumentam.
Contudo, o proletariado não é apenas uma vítima passiva. Sua massa cresce e sua força se concentra. Os operários, inicialmente isolados, formam uniões para defender seus salários e resistir à exploração. Essas lutas, que começam em nível local, se transformam em uma luta nacional e, finalmente, em uma luta política.
O Manifesto ressalta características distintivas do proletariado:
- Não possui propriedade.
- Suas relações familiares são desprovidas das características burguesas, pois a grande indústria destrói os laços familiares do proletário, transformando crianças e mulheres em meros instrumentos de trabalho.
- Não tem pátria. Os antagonismos nacionais desaparecem com o desenvolvimento da burguesia e do comércio mundial, e a supremacia do proletariado fará com que desapareçam ainda mais.
A classe operária é vista como a única verdadeiramente revolucionária, pois, ao contrário das outras classes que lutam contra a burguesia, ela não tem nada a preservar, mas sim tudo a derrubar.
O Que os Comunistas Realmente Querem? Esclarecendo Mal-entendidos
Os autores do Manifesto buscam desmistificar as acusações frequentemente feitas contra os comunistas:
- Abolição da Propriedade Privada: Os comunistas não buscam abolir a propriedade pessoal, fruto do trabalho individual, mas sim a propriedade burguesa. Essa forma de propriedade, baseada na exploração de uma classe pela outra, é vista como a culminação de antagonismos de classe. A propriedade do pequeno burguês ou do camponês já está sendo abolida diariamente pelo avanço da grande indústria.
- Abolição da Família: Os comunistas não querem abolir a família em geral, mas a família burguesa, que, para os autores, se baseia no capital e na exploração. Com o desaparecimento do capital, a família burguesa naturalmente desaparecerá. Eles criticam a exploração de crianças pelos pais no contexto industrial moderno.
- Educação: O objetivo não é abolir a educação, mas sim transformar seu caráter, retirando-a da influência da classe dominante e tornando-a pública e gratuita para todas as crianças.
- Nacionalidade: A ideia de que os operários não têm pátria significa que os interesses e condições de existência do proletariado são universais, transcendendo as fronteiras nacionais. A luta de classes, embora inicialmente nacional, é intrinsecamente internacional.
O Caminho para a Revolução: Medidas Propostas
A revolução comunista, para Marx e Engels, implica uma ruptura radical com as relações de propriedade tradicionais. O proletariado, uma vez no poder político, utilizaria sua supremacia para, gradualmente, arrancar todo o capital da burguesia e centralizar os instrumentos de produção nas mãos do Estado, que, nesse contexto, seria o proletariado organizado como classe dominante.
As medidas propostas para essa transição, embora variando conforme o país, incluem:
- Expropriação da propriedade da terra e uso da renda para despesas estatais.
- Imposto progressivo.
- Abolição do direito de herança.
- Confisco da propriedade de emigrados e rebeldes.
- Centralização do crédito em um banco nacional com monopólio estatal exclusivo.
- Centralização dos meios de transporte nas mãos do Estado.
- Multiplicação das fábricas e instrumentos de produção, com cultivo de terras incultas e melhoria das cultivadas sob um plano geral.
- Obrigação de trabalho igual para todos, com a formação de exércitos industriais, especialmente para a agricultura.
- Combinação da agricultura e da indústria, buscando eliminar a distinção entre cidade e campo.
- Educação pública e gratuita para todas as crianças, com abolição do trabalho infantil em fábricas e integração da educação com a produção material.
A Sociedade do Futuro
Quando as distinções de classe desaparecerem e toda a produção estiver concentrada nas mãos de indivíduos associados, o poder público perderá seu caráter político. No lugar da velha sociedade burguesa, com suas classes e antagonismos, surgirá uma associação na qual o livre desenvolvimento de cada um é a condição para o livre desenvolvimento de todos.
O Manifesto conclui com um chamado à ação, declarando que os comunistas não se rebaixam a ocultar suas opiniões e objetivos. Eles proclamam abertamente que seus fins só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente. E a icônica frase final: "Os proletários não têm nada a perder senão suas cadeias. Têm um mundo a ganhar."
Comentários
Postar um comentário