O Pacto do Hamas de 1988: Uma Visão Fundamental

O documento "O Pacto do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) de 18 de agosto de 1988" oferece uma visão aprofundada da ideologia, objetivos e estratégias fundamentais do grupo. Publicado em meio a um cenário de sofrimento e desafios na região, este pacto se apresenta como um guia para o movimento.



Ideologia e Origens O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) define seu programa como Islã, do qual extrai suas ideias, modos de pensar e compreensão do universo, da vida e do homem, buscando nele julgamento e inspiração para seus passos. É caracterizado como uma das asas da Irmandade Muçulmana na Palestina, uma organização universal que representa o maior movimento islâmico nos tempos modernos. O alcance temporal do movimento remonta ao nascimento da mensagem islâmica, tendo Alá como seu objetivo, o Profeta como seu exemplo e o Corão como sua constituição.

Palestina como Waqf Islâmico Um dos conceitos centrais do Pacto é a crença de que a terra da Palestina é um Waqf Islâmico, consagrada para as futuras gerações muçulmanas até o Dia do Juízo Final. Isso significa que ela, ou qualquer parte dela, não deve ser desperdiçada ou entregue. Segundo o Pacto, nem um único país árabe, nem todos os países árabes, nem reis, presidentes ou organizações, têm o direito de renunciar a ela. Esta é a lei que rege a terra da Palestina na Sharia Islâmica, aplicada a qualquer terra que os muçulmanos tenham conquistado pela força.

Jihad: A Única Solução O Pacto do Hamas declara explicitamente que iniciativas, soluções pacíficas e conferências internacionais são contraditórias aos princípios do Movimento de Resistência Islâmica. Para o Hamas, "abusar de qualquer parte da Palestina é um abuso direto de parte da religião". A nacionalidade do Movimento de Resistência Islâmica é parte de sua religião, e seus membros lutam para erguer a bandeira de Alá sobre sua terra natal. Portanto, não há solução para a questão palestina senão através da Jihad.

As "Três Esferas" de Luta A libertação da Palestina é vista como ligada a três esferas interconectadas:

  • A esfera palestina.
  • A esfera árabe.
  • A esfera islâmica. É considerado um erro grave ignorar qualquer uma dessas esferas, pois a mobilização das capacidades de todas elas é crucial para a libertação. A Jihad para a libertação da Palestina é um dever individual de todo muçulmano onde quer que esteja.

O Papel da Mulher Muçulmana O Pacto enfatiza o papel vital da mulher muçulmana na batalha pela libertação. Ela é vista como a "construtora de homens" e desempenha um papel fundamental na orientação e educação das novas gerações. Os inimigos teriam percebido a importância de seu papel, tentando afastá-la do Islã através de campanhas de informação, filmes e currículos escolares, muitas vezes usando organizações infiltradas como Maçons, Rotary Clubs e outros grupos. A mulher no lar da família combatente, seja mãe ou irmã, é responsável por cuidar da família, criar os filhos e imbuí-los de valores morais e pensamentos derivados do Islã, preparando-os para o papel de combate.

Responsabilidade Social Mútua A sociedade muçulmana é descrita como uma sociedade de responsabilidade mútua. Diante de um inimigo que emprega "métodos de punição coletiva", como privar as pessoas de suas terras e propriedades, atirar em mulheres, crianças e idosos, e manter milhares em campos de detenção, é essencial que a responsabilidade social mútua prevaleça. Os membros do Movimento de Resistência Islâmica devem considerar os interesses das massas como seus próprios interesses pessoais e trabalhar para alcançá-los e preservá-los.

Alegadas Forças de Apoio ao Inimigo (Teorias da Conspiração) O documento afirma que os inimigos, descritos como sionistas, têm planejado e utilizado sua riqueza material para controlar a mídia mundial, agências de notícias, imprensa e estações de rádio. Alega que eles instigaram revoluções, como a Revolução Francesa e a Revolução Comunista, e formaram sociedades secretas como Maçons, Rotary Clubs e Lions para sabotar sociedades e alcançar interesses sionistas. Além disso, o Pacto os acusa de estar por trás da Primeira Guerra Mundial (destruindo o Califado Islâmico e formando a Liga das Nações) e da Segunda Guerra Mundial (com ganhos financeiros e abrindo caminho para o estabelecimento de seu estado). O documento afirma que "não há guerra acontecendo em lugar nenhum sem que eles tenham o dedo nela".

Relação com a OLP e o Mundo Árabe/Islâmico O Movimento de Resistência Islâmica vê a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) como a mais próxima de seu coração, contendo pais, irmãos e amigos. No entanto, o Hamas expressa sua incapacidade de trocar a Palestina islâmica presente ou futura pela ideia de um "estado secular", pois o secularismo contradiz a ideologia religiosa. O Pacto declara que se a OLP adotasse o Islã como seu modo de vida, o Hamas se tornaria seus soldados.

O Hamas também apela aos países árabes e islâmicos para que abram suas fronteiras aos combatentes e facilitem seu movimento para que possam consolidar seus esforços na Palestina. Há um aviso contra o plano sionista de isolar o povo palestino, retirando um estado árabe após o outro do círculo de luta, alertando que a ambição sionista é ilimitada, aspirando a expandir "do Nilo ao Eufrates".

Atestado da História O Pacto faz referência à história, citando a derrota dos cruzados por Salah al-Din al-Ayyubi e a derrota dos tártaros em Ain Jalut como exemplos de como os muçulmanos podem prevalecer quando lutam sob a bandeira religiosa islâmica. Acredita que o "ataque sionista" atual, precedido por "ataques cruzados do Ocidente e outros ataques tártaros do Oriente", também pode ser derrotado pela fé e determinação islâmica.

Em resumo, o Pacto do Hamas de 1988 é um documento fundamental que estabelece a base ideológica e estratégica do Movimento de Resistência Islâmica, enraizando sua luta em princípios islâmicos e uma visão escatológica da libertação da Palestina.

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